Me olha como quem nunca me viu,
Me atravessa como se atravessam rios,
Fecha a porta, tudo atrás fica escuro,
Vai deixando no passado o que hoje era futuro,
Vai descendo aos poucos a escada,
E aos poucos tudo é nada, nada posso fazer.
Meus olhos na janela, os seus na rua;
Evaporam-se tuas lágrimas.
Duas semanas antes, no cinema,
Tive a intuição:
Choraste a toa ao ver uma cena
De um beijo firme e suave no fim.
Eu disse: boba, é só um filme,
Você disse com a voz trêmula: somos ficção.
Olhei um porta retrato antigo;
Algum de nós já não sentia aquele amor.
Seus lábios estão petrificados e encardidos
De alguma coisa que o tempo esconde dentro de nós.
E hoje, quando cheguei do escritório,
Me olhaste, e foi pela última vez.
Cansou-se da poeira do apartamento,
E de assistir sempre aos telejornais.
Me disse decididamente um “adeus”
Que reprimira, quando a esperança era quase amor,
E essa palavra veio em câmera lenta,
E eu demorei pra ouvir e entender: adeus.
Adeus.
Me olhou como quem nunca me viu,
Me atravessou como se atravessam rios,
Fechou a porta, permaneci escuro,
Foi deixando um presente que nunca aconteceu,
Foi descendo aos poucos a escada,
Quis gritar, mas não tive coragem.
Meus olhos na janela, os teus na rua;
Já não necessitas lágrimas, és sublimação.
Um comentário:
ta marofadin isso aqui.. hehehe
lóki meu camarada!
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