sábado, 22 de março de 2008

À falta da palavra

O ouro que vale mais que olho e o olho do tolo.

A casa que vale mais que o concreto, o rejunte e o tijolo.

O beijo que vale mais que a boca na boca e a alma.

A espécie rara que vala mais que toda a fauna.

A mão certa, firmeza e rumo, certa forma de corrimão.

A sorte que prezo bem mais que o jogo.

O amor que, tamanho, dá três voltas no coração.

O "um" só que sou já não traduz o todo.

O "sim" tão óbvio que prescinde de "não".

O minuto que abriga os séculos e os séculos.

A presa que sangra, mas vence os tentáculos.

A certeza que teme perder-se em si ou no mar,

não pela dúvida, mas no pavor de imaginar.

O sorriso que compensa o preço dos dentes.

O "nós" que vale mais que o lado, e você que me ganha.

Superada a pesada culpa de ser inocente,

meus olhos, os teus: vale o riso, vale o peito, vale a manha.

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