segunda-feira, 31 de março de 2008

Tudo Lixo

Tudo Lixo


Impossível percorrer as ruas

Sem temer o brilho escuro das armas, o assalto,

A sombra da pobreza, suja do asfalto.


Impossível percorrer as ruas,

E mesmo em meu quintal confortável,

Minha residência habitual, há o improvável:

Toneladas de lixo espacial, espaçonave descartável

Pairando distraída sobre minha cabeça,

Eu esperando que algo aconteça

Com a cabeça endinheirada dos homens

(pensando nas flores extintas sem nomes).


Impossível percorrer meu peito

Sem esbarrar na pesada culpa

De ser parte do defeito,

De ser quem nada faz, só se preocupa.


Impossível não supor que o homem

Tem por natureza, por instinto,

Mais a voracidade que o pensamento.


Impossível esquecer que a carne

Que ostento em meus ossos e gestos indiscretos

Não será adubo, ou comida, ou carne,

Mas lixo funerário,

Engavetado, empilhado, emparedado no concreto.


Impossível tapar os olhos, fazer de conta.

Impossível não temer o amanhã que desponta.


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